Fonte: O Estado de S. Paulo 23/3/2009
O transporte de cargas no Brasil passa por sérias dificuldades. Com a queda da atividade industrial, das exportações e do consumo interno, faltam encomendas. O resultado é queda no volume embarcado e caminhões, trens e navios operando abaixo da capacidade.
Os caminhoneiros autônomos, quase meio milhão de profissionais no Brasil, viram as encomendas caírem cerca de 50% neste ano. Nas ferrovias a queda foi de 18% e nos portos o movimento diminuiu 15%. Na média, entre todos os modais, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) estima um recuo de 20% em comparação a 2008.
No terminal Fernão Dias, em São Paulo, maior posto de cargas do Brasil, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, o movimento começou a cair em dezembro. O sindicalista imaginava que assim que as festas de fim de ano e as férias coletivas passassem a situação se normalizaria. Mas até agora a crise só aumentou.
A quantidade máxima de caminhões no terminal Fernão Dias em períodos normais é de 800 veículos e a espera dos motoristas por uma carga não passa de 12 horas. Hoje há cerca de 1.200 veículos espalhados por todos os cantos do terminal.
Não se consegue um frete sem ter de esperar pelo menos uma semana. "A oferta de cargas caiu por volta de 50%. Está tudo cheio, o pátio, as ruas. Esperamos que nesta semana a situação melhore um pouco porque se aproxima do fim do mês e as empresas costumam esvaziar os estoques", diz Fonseca.
Não bastasse a demora para conseguir uma viagem, os caminhoneiros sofrem os reflexos da falta de caixa das empresas de transporte, com dificuldade para pagar pelos fretes. "É calote mesmo. Tem motorista com saldo de frete de R$ 4 mil. Enquanto isso o tempo passa e ele não tem como pagar a prestação do caminhão. Tem gente correndo risco de perder o veículo por falta de pagamento", alerta o presidente da associação.
A proposta do setor é que temporariamente o governo reduza o valor do óleo diesel (responsável por 70% do valor do frete) e ajude na renegociação das dívidas entre os caminhoneiros e as financeiras. As sugestões devem ser apresentadas ao presidente Lula nesta semana pela direção da Abcam e da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam).
Clesio Andrade, presidente da CNT, não disfarça o pessimismo quanto ao futuro da atividade diante da previsão de estagnação da economia brasileira em 2009. Segundo ele, o cálculo preliminar aponta para um corte entre 8% e 10% do total de empregados do setor.
Por parte do setor patronal a estimativa é semelhante. Flávio Benati, presidente da Associação Nacional de Empresas de Transportes Rodoviários e de Cargas (NTC), calcula que o movimento tenha caído perto de 40%. Um dos reflexos é a queda nos investimentos. "Quem vai renovar a frota diante de um cenário destes?", pergunta Benati. Mesmo porque, lembra o presidente da NTC, a restrição de crédito é muito grande.
Nos portos brasileiros as dificuldades são um pouco mais brandas do que se vê nas estradas. Wilen Mantelo, presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), estima que os resultados do setor estejam 15% abaixo do que se registrou no mesmo período do ano passado. "Sofremos com a queda na atividade de mineração e do agronegócio. Deveremos ter uma retração nos investimentos", prevê.
Na área de trens, segundo Rodrigo Vilaça, diretor executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o movimento caiu por volta de 18%. As empresas sentem mais a retração nas áreas de transporte de minério, carvão e aço. "As ferrovias estão buscando atender seus clientes de forma mais completa, como operadoras logísticas. Assim conseguem minimizar as perdas", diz Vilaça.
O que ajudou a atenuar os estragos no transporte ferroviário, segundo Vilaça, foram produtos como açúcar, álcool, materiais de construção e petroquímica. O modal é responsável por 27% da matriz de transporte do Brasil, enquanto o rodoviário domina com 60%.
Presidente da empresa de transportes Rapidão Cometa, de Pernambuco, Edwar Montarroyos também defende que aqueles que atuam no setor procurem diversificar os serviços oferecidos para driblar a crise. "Se eu tivesse me concentrado apenas no transporte de automóveis, autopeças e eletroeletrônicos estaria em um momento bem difícil", afirma. Com a crise, Montarroyos espera ter a chance não só de manter a participação de mercado, mas ampliar negócios com crescimento orgânico ou aquisições.
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