Autor(es): Agencia o Globo
O Globo - 15/10/2010
Existem mais dúvidas do que certezas sobre a viabilidade econômica e financeira de trem-bala previsto para fazer a ligação Rio-São Paulo-Campinas. Além de noventa quilômetros de túneis e viadutos, o trem terá de atravessar áreas urbanas extremamente adensadas, o que exigirá inúmeras e onerosas desapropriações, além de obras de engenharia de elevado custo. Daí não se poder confiar nas estimativas feitas até agora. Salvo melhor juízo, vale a regra de que toda projeção de investimento de uma obra com a participação do Estado é sempre subestimada.
As simulações sobre o retorno do investimento, portanto, variam muito, mas, diante das tarifas propostas, estima-se que a demanda de passageiros necessária para atrair capital privado seria de quase cinco vezes o atual movimento das companhias aéreas que oferecem voos ligando Rio e São Paulo. Mantida a tendência de forte crescimento da economia brasileira, com reflexo nos principais centros de consumo do país, é de se esperar que haja um considerável aumento da demanda de passageiros entre as duas capitais, principalmente se o trem se mostrar um sistema de transporte confortável, seguro, pontual e com preços competitivos.
De qualquer maneira, o trem rápido deveria ser planejado mais para atender à demanda adicional do que para substituir a ponte aérea Rio-São Paulo. Os aeroportos de Congonhas e Santos Dumont de fato estão hoje próximos de seus limites de operação, e por suas condições geográficas não possibilitam expansões.
O trem rápido pode perfeitamente ser um modal que preencha uma demanda entre o transporte aéreo e o rodoviário, sem substituir um ou outro, pois, na verdade, focaria o acréscimo projetado no fluxo de passageiros.
Entre as opções ao modelo sugerido pelo governo existe a de se reduzir pela metade a velocidade média do trem, de maneira a permitir mais aclives e declives, e um traçado que não descarte totalmente curvas pouco acentuadas. O custo de implantação desse tipo de trem diminuiria quase a ponto de se evitarem subsídios governamentais relevantes. Com isso, não haveria risco de a União comprometer outros investimentos no transporte de passageiros, em especial o de massas nas grandes cidades que, para deslanchar, precisa de apoio federal.
O trem-bala tem sido tratado como um projeto pronto e acabado pelo atual governo, sem merecer uma discussão mais aprofundada. Infelizmente, é um tema que vem passando também ao largo na campanha eleitoral, sem que os candidatos à Presidência tenham confrontado opiniões a respeito, de maneira balizada.
Ainda há tempo para que isso ocorra, pois faltam vários dias de campanha e estão previstos alguns debates diretos sobre o tema. Não se trata de um investimento trivial que possa ser desconsiderado na campanha às próximas eleições. Se o custo do trem-bala alcançar a faixa de R$34 bilhões, o valor do investimento ultrapassará o previsto para a construção das três maiores hidrelétricas projetadas para entrar em funcionamento na Amazônia até 2015 (Santo Antonio, Jirau e Belo Monte), apontadas como obras de engenharia igualmente desafiadoras, com a diferença que para as usinas não se preveem subsídios. Esta ordem de grandeza bastaria, por si só, para justificar um reestudo criterioso do projeto.
Fonte1: O Globo
Fonte2: Portal Clipping MP
Link: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/10/15/hora-de-se-debater-o-trem-bala - Acesso em 16.10.2010
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