Fonte: Valor Econômico 27/3/2009
Uma pilha de cavacos de vários metros de altura já está formada no pátio da nova fábrica da Votorantim Celulose e Papel (VCP), no município de Três Lagoas, situado em um entroncamento de malhas rodoviária, fluvial e ferroviária, no extremo leste do Mato Grosso do Sul. Na segunda-feira, 20 dias antes do previsto, as primeiras lascas destas madeiras serão despejadas em um digestor - uma espécie de panela de pressão gigante com temperaturas acima de 140 graus centígrados, calor suficiente para extrair a celulose da madeira. Quando os primeiros fardos desta commodity forem embalados 36 horas depois, marcando o início da operação da maior linha contínua de produção de celulose do mundo, será dado o início a uma nova empreitada: o de transporte da celulose.
Ao contrário das demais unidades existentes no país, a nova fábrica de celulose - a primeira do gênero na região Centro-Oeste - é a que estará mais longe do litoral brasileiro. Localizada a cinco quilômetros das margens sul-mato-grossense do rio Paraná, que faz a divisa com o Estado de São Paulo, a nova produção da VCP terá de vencer os 900 quilômetros de distância que a separam do terminal do porto de Santos, rota de exportação, utilizando uma linha ferroviária, que estava quase abandonada. Um contrato de 20 anos, avaliado em R$ 250 milhões, com a ALL Logística reduziu à metade o percurso, que era de nove a dez dias, garantindo uma queda geral nos custos de produção da fabricante de celulose.
Fábricas pioneiras para a produção de celulose no Brasil, como a da Aracruz, no Espírito Santo, ou as mais recentes, como a da Veracel, no sul da Bahia, aproveitaram as oportunidades de terras abundantes e baratas e a proximidade do mar para escoarem sua produção, voltada quase exclusivamente à exportação. No entanto, essas vantagens têm desaparecido à medida que essas regiões ficam mais adensadas populacionalmente e atraem outras atividades, como turismo ou serviços.
"O ideal é ter o porto e a floresta perto da fábrica. Nem sempre isto é possível, mas é melhor ter a fábrica mais próxima da base florestal do que do porto", diz o diretor técnico e industrial da Votorantim Celulose e Papel, Francisco Valério. As florestas de eucaliptos que fornecerão a matéria-prima à unidade de Três Lagoas estão a um raio médio de 60 quilômetros de distância, nível considerado altamente competitivo para a atividade.
O raciocínio de Valério leva em conta o custo do frete. Nos cálculos da empresa, para cada tonelada de celulose pronta para ser transportada, três a quatro toneladas de madeira são extraídas das florestas, o que pesa mais sobre os custos totais. "A alternativa ferroviária se mostrou a mais competitiva para Três Lagoas. Se fosse a opção rodoviária, o custo seria o dobro", diz Valério.
A produção de Três Lagoas da VCP deve apresentar um custo entre 15% a 20% menor do que a fábrica mais antiga da VCP, a de Jacareí, em São Paulo, localizada a apenas 145 quilômetros de Santos, onde o transporte também é realizado por trem. As madeiras para abastecerem a unidade de Jacareí estão a mais de 200 quilômetros de distância.
Para sua nova unidade no cerrado, a VCP avaliou outras rotas para o escoamento da produção como a navegação fluvial pelo rio Paraná junto com o modal ferroviário e uma combinação tripla entre os meios de transporte fluvial, rodoviário e ferroviário. Na opção escolhida exclusivamente ferroviária, mais de uma centena de caminhões deixarão de cruzar as rodovias paulistas.
Pelo contrato acertado com a ALL, quase 600 vagões ferroviários, entre novos e reformados, foram adaptados para o transporte do produto. Eles serão puxados por 40 novas locomotivas C30 - com potência de 3,3 mil hp - e levarão mais de 1 milhão de toneladas anuais de celulose até Santos. O percurso será vencido em quatro dias, além de 12 horas para o carregamento. Cada vagão vai portar uma mensagem ambiental de uma seleção de 50 frases recolhidas em um concurso interno promovido entre os funcionários da VCP.
Ainda falta concluir uma etapa no projeto logístico. Para substituir um pequeno trecho rodoviário, a VCP deverá construir um ramal ferroviário de cerca de 20 quilômetros de sua fábrica, onde carregará a celulose, até a linha da ALL. Para isso, aguarda a licitação pública para a construção de um contorno ferroviário, que prevê a retirada da atual linha que corta a cidade de Três Lagoas, cuja população atinge 90 mil habitantes. "O projeto deve ser concluído até o início do ano", aposta Valério. A malha ferroviária da NovoOeste, que pertencia a Brasil Ferrovias, adquirida pela ALL, estava subutilizada. "Era um trecho em condições precárias. O contrato com a VCP ajudou a melhorar o investimento na via permanente", diz o diretor da ALL Logística, Sérgio Nahuz, referindo-se apenas aos R$ 30 milhões aplicados na troca de dormentes e novos trilhos no trecho de 400 quilômetros de Três Lagoas a Bauru, já em São Paulo, o que permitiu o tráfego das locomotivas mais potentes, ajudando a diminuir o tempo de viagem. "A logística foi imprescindível para a localização da unidade, o que serve de modelo para futuros projetos", diz Nahuz.
A ALL já negocia com a VCP o transporte futuro de madeira para a fábrica em trechos mais distantes caso decida-se ampliar o investimento em Três Lagoas - a unidade foi projetada para a duplicação, mas poderá comportar uma terceira linha se houver necessidade. "Temos uma visão de longo prazo", diz Valério, um português naturalizado brasileiro, que chegou ao país pelo porto de Santos, em agosto de 1954, ainda pequeno com a família e pegou o trem rumo a Curitiba. "As redes de trem que começam a ser reativadas criam oportunidades para um segundo módulo na fábrica."
A ALL também discute com outros produtores de celulose, mantidos em sigilo, futuras rotas de escoamento de produção ainda mais distantes do que a VCP em Três Lagoas, diz Nahuz. A linha que atende a Três Lagoas, que cruza Campo Grande, a capital do Mato Grosso do Sul, tem origem em Corumbá, na fronteira com a Bolívia, onde a mineradora Vale do Rio Doce acabou de adquirir um projeto de exploração de minério de ferro da anglo-australiana Rio Tinto.
O município de Três Lagoas atraiu a atenção dos executivos do grupo Votorantim pelo fato de a região acomodar um projeto florestal. Criado 20 anos antes pela produtora americana Champion, que deu início a um projeto de reflorestamento com o objetivo de construção de uma unidade integrada de produção de celulose e papel, o projeto nunca havia saído do chão por causa principalmente das dificuldades logísticas. No fim de 2006, a VCP e a sucessora da empresa americana, a International Paper, maior empresa do setor nos EUA, decidiram fazer uma operação bilionária de troca de ativos: com a entrega de uma fábrica de produção de papel em funcionamento, a empresa de celulose do grupo Votorantim recebeu as florestas plantadas de eucaliptos, além das licenças ambientais e uma bolada por volta de US$ 1,1 bilhão para erguer a unidade.
A empresa do grupo Votorantim decidiu redimensionar o projeto da fábrica de celulose para 1,3 milhão de toneladas anuais, inicialmente prevista para 900 mil toneladas, de modo a obter maiores ganhos devido à nova escala de produção do setor. Aplicou mais US$ 350 milhões, o que levou o projeto todo de investimento a casa do US$ 1,5 bilhão.
Como parte do negócio, ficou acertada a construção de uma fábrica de papel da International Paper, dona da marca Chamex, contínua à linha de produção de celulose da VCP, que se comprometeu a fornecer a matéria-prima por até 90 anos. A fábrica de papel da IP opera desde fevereiro com capacidade de 200 mil toneladas, utilizando a celulose entregue pela unidade de Jacareí da VCP, em São Paulo. Na semana que vem, caberá a Votorantim fornecer o produto de sua nova unidade.
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2 comentários:
Oie Prof; Passei por aqui e Li essa noticia... Achei muito interessante. Beijos é até sabado.!
Ariane Horrana.
Passei por aqui hoje, E gostei dessa noticia.. Beijo e até sabado.
Ariane Horrana
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